quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sou eu


Sou bêbado
Velho jogador de truco
Não podes ser meu amor
Sou triste
Eunuco

Sou eu
Um simples bardo
Que sonha contigo
Na cama
O fado

Sou meu
Numa simples poesia
Mas não posso
Não sou música
Nem melodia

Sou assim
Diferente dos bons
No truco
Brado
Meus dons

Sou folha
Que não escreve teu nome
Que morre
Infeliz
De fome

                   (de amor)

Camila Barros

eu te ajudo


Sai desse espelho
Há tantas coisas mais lindas pra se conhecer...
Sinta o valor de uma lua cheia
De uma praia
De um deitar na areia...
Receite para seu coração um novo amor
Uma nova forma de amar!
Você será capaz de escolher
Capaz de distinguir.

Faz assim...
Segura minha mão que eu te ajudo!

Camila Barros

terça-feira, 26 de abril de 2011

saudade de muitas pessoas..

que noite doida!
hohoho
hoje é dia de tomar banho na praia a noite com roupa e tudo!
molhar o carro todo e dormir cansada!


Respirou fundo, também sentiu sua pupila dilatar ao ler ‘As pupilas de Victor’, e sentiu um frenesi lhe comer até as pontas dos cabelos. Há muito não se sentia assim, e cuidadosamente pegou o livro, leu novamente o final, fechou-o, olhou para cima vendo meio teto e meio livro, guardou-o no seu criado mudo e deitou para sonhar.
Ela também esperava alguém à beira

Camila Barros 



Leia 'As pupilas de Victor' de Vládya Mendes
http://pipperando.blogspot.com/2010/08/as-pupilas-de-victor.html
O dia de amanhã
cuidará do dia
de amanhã e tudo
chegará no tempo exato.



 Caio Fernando Abreu

O Réu


Todos podem vir bater a tua porta cordialmente, carregados de intenções licenciadas,
Mas só eu atiraria pedras em teu telhado mesmo sabendo que ele é feito de nuvens;
E somente eu pularia a tua janela te levando minh’alma de presente.

Todos podem beijar a tua boca,
Mas só eu contaria teus cabelos;
Somente eu me perderia nos desvios da tua coluna;
Por cada vértebra tua; só eu me perderia...

E todos podem vir elegantes te contar do perfume que usam,
Mas só eu te convidaria para suar a noite inteira até o dia
E nos enxugaríamos na grama da manhã;
Exaustos de algo que não tem nome nem preço...

Todos podem vir com suas violas debaixo do braço, te cortejar em tua varanda,
Cantarolando tentativas de idílios suaves,
Mas só eu te recitaria um poema trágico, fazendo-te rir incessantemente.
E o teu riso temperamental seria então a melodia que me acompanha...
A trilha mais sonora de minha vida esquizofrênica e bem vivida...
Teu riso...

Todos podem apresentar-se com as mãos cobertas de flores e chocolates
E da boca te arremessar um eu te amo ardoroso,
Mas só eu te faria sentir no silêncio duma respiração
A intensidade com que está se contorcendo dentro dum peito estreito,
Por ti o meu coração...

E as estrelas diriam por mim
O quanto eu te amo,
Pois tudo que não podemos apanhar para si;
Tudo que não se pode tocar;
Levar para que decore a casa
Não tem finitude nem equivalência alguma.

O efêmero mora apenas no espírito de quem planeja um sentimento.
E os meus poemas estão reservados as suas galáxias...

Voltar a convencer alguém
Nem que seja só você..

Kamilla Cândido.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

alice Pieszecki



















Saudade de quando eu não 
sabia o seriado decorado 
xD~

De repente pele

Rente a pele
Que nela
Existem milhões de flores abertas
Rente a pele
Que nela
Existem milhares de estruturas
Ah, como carregamos gravuras
Ah, como é bom desenhar!

Rente a pele
Que nela
Existem milhares de você
Rente a pele
Que nela
Existem castelos de glacê
Ah, como temos o elo
Ah, como temos tanta pele!

Rente a ela
Que nela
Existem multidões de sóis
Rente a ela
Que nela
Existem pedaços de fogo
Ah, como temos cama
Ah, como temos chama!

Mas nada bastaria
Rente a nada
Que nada restaria
Se eu estivesse rente a ela


Camila Barros

Todo osso é pra morder
e toda raiva é pra gritar








eletrocactus

bila

no chão, na areia
a bila a beirar
de voar da minha mão
(que brilhe a bila no chão)
ganhando a bila
fazendo a trilha
brincando de bila
para te ganhar...
na areia, no chão
a bila a ganhar
o brilho que o céu
rouba e te dá.


camila barros

Regime

domingo, 24 de abril de 2011

Viagem

         Eu via do espelho a cidade afastando, ficando pequena, até sumir. Desse mesmo espelho eu via meus olhos cheios de saudades, e cada vez que eu me via, com mais saudade ficava. Tentava afirmar para mim aquele ditado: “eu era feliz e não sabia”, mas logo me afirmava que eu era feliz com aquele presente. Perguntava-me então: por que não ser feliz agora? Esse presente faz parte de mim e sempre fará. Confundia-me dentro daquele ônibus que balançava a mim e a meu juízo. Tentei ler as últimas folhas de Lucíola mas não consegui. Fui dormir pensando nas besteiras que ocupavam minha mente, pois afinal não conseguia fazer nada além de pensar.
Acordei umas horas depois com um homem meio moço meio velho cutucando meu braço. É hora do jantar, disse ele com um sorriso amarelo. Desci do ônibus em sua companhia, o nome dele é Alfredo, meu único colega até agora. Ficamos os quinze minutos conversando numa mesa meio isolada dos outros viajantes, comendo batatas, biscoitos e tomando suco de laranja. Alfredo contou que era médico da cidadezinha que viveu desde pequeno, estava indo para a cidade grande atrás de uma formação melhor. Eu, continuando minhas paranóias perguntei se ele era feliz onde morava. Ele disse que era, mas esperava ser mais. Esperava formar-se e ser um excelente médico. Não sabia exatamente como fazer, mas sabia o que queria. Eu perguntei muitas outras coisas sobre ele quando me perguntou se iamos ficar falando a noite toda sobre ele. Eu, encabulada, disse que não. Levantamos e voltamos para o ônibus.
No meio do curto caminho ele interrompeu o silêncio perguntando o que eu ia fazer na cidade grande, eu disse que tinha intenção de encontrar meus pais. Na verdade não sabia quase nada sobre eles, mas acreditava fielmente que os encontraria. Alfredo se acolheu ao meu lado e eu contei que tinham me deixaram no interior quando tinha treze anos (os rostos ainda fervem em minha cabeça sempre que lembro). 
Talvez seja muito difícil, talvez eu não consiga. Mas eu quero, eu sonho em encontrá-los. Eu só lembro do meu pai colocando-me no colo, minha mãe fazendo tranças em meu cabelo... Nossa! Falei tanto que quando percebi Alfredo dormia. Não fiquei chateada, eu falo muito mesmo. E aproveitei o resto de madrugada para dormir.
         “Todo mundo passando tudo, agora! Todo mundo caladinho!” Foi com esses gritos que acordei na pior sexta-feira da minha vida. Alfredo agora estava longe de mim. Os ladrões haviam separado os homens das mulheres. No banheiro um deles estuprava uma jovem, era assustador os gritos que vinham lá de dentro. As velhas choravam e os marginais batiam em suas cabeças sem pena e sem dó. Eu só sabia rezar para escapar de tudo aquilo. Minhas preces eram fortes, eu chorava em minha cadeira, mas não deixava de pedir. Ouvi tiros e cada vez mais eu ficava assustada. Alfredo gritou pelo meu nome e conseqüentemente ouvi outro tiro e uma voz rouca dizendo: Esse também não fala mais! Eu chorava com agonia, meu coração apertava tanto que eu tinha vontade de encolher-me toda. O que doía mais era que minha oração dizia “seja feita vossa vontade” mas eu desejava viver para encontrar meus pais. Eu estava cada vez mais horrorizada a ponto de não perceber muito o que acontecia. Eu só sabia pedir mais e mais.
         Os ladrões, que carregavam muitas bolsas, pediram para parar o ônibus e assim foi feito. Da minha janela eu via um apontando a arma para o motorista, os gritos do banheiro pararam. Uns brincavam com os corpos mortos enquanto saiam e eu só sabia rezar. Um dos infelizes, depois de ter feito a desgraça toda, ainda desceu atirando; uma das balas perfurou-me a cabeça.
         Foi feita a vontade de Deus. E como num fio de alegrias eu realizei meu sonho.

Camila Barros.

olha o que eu lembrei agora..

Não se reprima
Não se reprima
Pooooooooooode gritar

auhuahuahauhuh'

sábado, 23 de abril de 2011

léo e bia

 
Como se faz com todo cuidado
A pipa que precisa voar
Cuidar de amor exige mestria
E Leo e Bia souberam amar
 
 
Oswaldo Montenegro e Zeca Baleiro
x] 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Do céu no chão

e eu que tanto quis te falar dos trages das estrelas,
não pude nem te tocar com os olhos..
nem te falar com a saliva ainda dentro da minha boca..
eu não pude nem sonhar antes de dormir.

hoje eu te canto um verso que eu fiz
quando eu escutei uma melodia ao meio dia.
e eu almocei a idade dos meus passos
que ainda assim, eu nao pude andar até você.

eu ainda tenho um olhar longe;
eu ainda vejo o varal das estrelas.



Camila Barros
Foto: Flaviane Sousa




Tradução de Chasing Pavements (Adele)

Perseguindo Sonhos Impossíveis

Eu me decidi,
Não preciso refletir sobre isto,
Se estivesse errada estaria certa
Não é preciso mais nenhum olhar
Isto não é luxúria,
Eu sei que isto é amor mas,

Se eu dissesse ao mundo,
Eu nunca diria o bastante,
Porque que não foi dito a você,
E isso é exatamente o que eu preciso fazer,
Se eu estou apaixonada por você,

Eu deveria me render,
Ou eu deveria continuar perseguindo sonhos impossíveis?
Até mesmo se não conduz a parte alguma
Ou seria um desperdício?
Até mesmo se eu soubesse que é meu lugar deveria deixá-lo?
Eu deveria me render,
Ou eu deveria continuar perseguindo sonhos impossíveis?
Até mesmo se não conduz a parte alguma

Eu me construiria,

E voaria em círculos
Espere então meu coração cair
E atrás de mim começa a dor
Finalmente isto poderia ser

Eu deveria me render,
Ou eu deveria continuar perseguindo sonhos impossíveis?
Até mesmo se não conduz a parte alguma
Ou seria um desperdício?
Até mesmo se eu soubesse que é meu lugar deveria deixá-lo?
Eu deveria me render,
Ou eu deveria continuar perseguindo sonhos impossíveis?
Até mesmo se não conduz a parte alguma

Eu deveria me render,
Ou eu deveria continuar perseguindo sonhos impossíveis?
Até mesmo se não conduz a parte alguma
Ou seria um desperdício?
Até mesmo se eu soubesse que é meu lugar deveria deixá-lo?
Eu deveria me render,
Ou eu deveria continuar perseguindo sonhos impossíveis?
Até mesmo se não conduz a parte alguma


Cântico IV

Tu tens um medo:
Acabar.
Não vês que acabas todo dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.


Cecilia Meireles

eu quero uma dessa daí ó!
x)

e mesmo assim
eu nao
confundiria você!


Camila Barros

Pink






Pretty pretty please don't you ever ever feel
Like you're less than fucking perfect
Pretty pretty please if you ever ever feel
Like you're nothing you're fucking perfect, to me






Fuckin' perfect

Por que os dias da semana têm "feira" no nome?

por Marina Motomura

"Feira" vem de feria, que, em latim, significa "dia de descanso". O termo passou a ser empregado no ano 563, após um concílio da Igreja Católica na cidade portuguesa de Braga - daí a explicação para a presença do termo somente na língua portuguesa. Na ocasião, o bispo Martinho de Braga decidiu que os nomes dos dias da semana usados até então, em homenagem a deuses pagãos, deveriam mudar. Mas espera aí: se feria é dia de descanso, por que se usa "feira" apenas nos dias úteis? Isso acontece porque, no início, a ordem do bispo valia apenas para os dias da Semana Santa (aquela que antecede o domingo de Páscoa), em que todo bom cristão deveria descansar. Depois acabou sendo adotada para o ano inteiro, mas só pelos portugueses - no espanhol, no francês e no italiano, os deuses conti- nuam batendo ponto dia após dia. As únicas exceções assumidas pelos nossos irmãos bigodudos - e depois incorporadas nas colônias portuguesas - foram sábado e domingo (Prima Feria, na Semana Santa), que derivam, respectivamente, do hebreu shabbat, o dia de descanso dos judeus, e do latim Dies Dominicus, o "Dia do Senhor". Desde 321 os calendários ocidentais começam a semana pelo domingo. A regra foi imposta naquele ano pelo imperador romano, Constantino, que, além disso, estabeleceu definitivamente que as semanas teriam sete dias. A ordem não foi aleatória: embora na época os romanos adotassem semanas de oito dias, a Bíblia já dizia que Deus havia criado a Terra em seis dias e descansado no sétimo e, ao que tudo indica, os babilônios também já dividiam o ano em conjuntos de sete dias.


Font: http://mundoestranho.abril.com.br/cotidiano/pergunta_287767.shtml

algum tempo atrás..













que grande saudade!

Como os gatos ronronam?

por Giselle Hirata

Existem várias maneiras de demonstrar satisfação: metaleiros sacodem a cabeça, goleadores tiram a camisa, cães sacodem o rabo e gatos fazem um barulho que parece um motor dentro do peito. Na verdade, eles ronronam o tempo inteiro: fêmeas ronronam no parto, filhotes quando mamam e, uma pesquisa da Universidade de Sussex revelou, algumas frequências de ronronar são uma tentativa de pedir comida. Todas essas vastas emoções e sentimentos imperfeitos estimulam o sistema nervoso central do gato, que aciona um sistema de vibração que envolve o cérebro e o sistema respiratório (ver quadro abaixo). E tome vibração: o ritmo é semelhante ao bater de asas de um beija-flor, cerca de 25 batidas por segundo.



Fonte Alexandre G. T. Daniel, médico veterinário especializado em medicina felina.

Bem que minha vó disse...

É realmente perigoso tomar banho depois de comer?

Só se a água estiver muito quente. Depois de uma refeição, nosso sangue se dirige em grande quantidade ao sistema digestivo para auxiliar a digestão. "Se entrarmos em contato com água muito quente, parte desse sangue desvia para a pele", diz o fisiologista Francisco Gacek, da USP. Isso porque os vasos sangüíneos superficiais se dilatam para deixar passar o calor e esfriar o organismo. Assim, parte do sangue que deveria ajudar no processo digestivo migra para a pele. O alimento permanece mais tempo no estômago e no intestino, podendo sofrer uma nociva fermentação provocada por bactérias. Já a água fria não traz problemas de digestão. Risco maior corre quem decide nadar depois de comer: o exercício físico atrai muito mais sangue para os músculos do que a água quente do banho.






Font:
http://mundoestranho.abril.com.br/cotidiano/pergunta_285733.shtml

Que mundo

eu nao sei o que dizer quando uma criança acha suas balas no lixo.

tantas coisas boas e tantas ruins acontecem.
só pra contar o segredo das gotas do teu ombro.

onde?

Foto: Camila Barros

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,

assim calmo, assim triste, assim magro,

nem estes olhos tão vazios,

nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,

tão paradas e frias e mortas;

eu tinha este coração

que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança.

tão simples, tão certa, tão fácil:

- Em que espelho ficou perdida

a minha face?

Cecília Meireles

A fome e o amor

A um monstro

Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,
Receando outras mandíbulas a esbangem,
Os dentes antropófagos que rangem,
Antes da refeição sanguinolenta!

Amor! E a satiríasis sedenta,
Rugindo, enquanto as almas se confrangem,
Todas as danações sexuais que abrangem
A apolínica besta famulenta!

Ambos assim, tragando a ambiência vasta,
No desembestamento que os arrasta,
Superexcitadíssimos, os dois

Representam, no ardor dos seus assomos
A alegoria do que outrora fomos
E a imagem bronca do que inda hoje sois!


Augusto dos Anjos

clima

sábado de chuva
e domingo de sol..
esse tempo que muda feito vento,
vento que muda de direção...
esse vento que muda feito tempo
o relógio que passa sem doer
passa no meu braço
e na parede dos cômodos!

domingo de sol
e segunda de sei lá..
eu vou esperar para ver
como amanhã será.


Camila Barros

quarta-feira, 20 de abril de 2011

domingo, 17 de abril de 2011

composição.

eu me encantei pelo teu caminho de pedrinhas.
pelo céu.
pela nuvem que nunca está sozinha.









Camila Barros



Foto: Flavane Sousa.

terça-feira, 12 de abril de 2011

[9.abril.2011]


feliz
e
feliz aniversário!


muitas coisas e energias boas para você no seu dia
e que permaneça por mais séculos e séculos!

te amo sem sobrenome
sem nome
e sem idade.

terça-feira, 5 de abril de 2011

aniversário da gê!













por que essas bostas amorosas me fazem bem!

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José ?

e agora, você ?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama protesta,

e agora, José ?

Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José ?

E agora, José ?

Sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio - e agora ?

Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora ?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse…

Mas você não morre,

você é duro, José !

Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José !

José, pra onde ?




Drummond

Mas há a vida

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.

Clarice Lispector

Obturações

São seus dentes

Para não dizer que são seus olhos

Para não dizer que é por você que eu estou cego.

São seus dentes

Para não dizer que eu adoro dormir nos seus cabelos

Para não dizer que o tempo todo eu me fingi de morto

O tempo todo

Até quando você não estava...

São seus dentes

Para não confessar que eu amo qualquer desvio teu;

E não basta saber que você está bem

É preciso fazer parte...

São seus dentes

Para não dizer que passo horas no teu silêncio;

Que eu passo horas fora de mim guardando você,

Te olhando com a ternura de um pai enquanto o filho brinca...

E você brinca tão bem...

Que eu me altero se você se for...

São seus dentes

Para não dizer que a tua pele tem a cor mais decente

Para não dizer que o teu abraço me atravessa

E não há outro lugar em que eu sinta que moro no corpo errado,

Há não ser no teu abraço.

São seus dentes

Para não dizer que as tuas mãos me contam segredos

Para não dizer que os teus dedos

Têm qualquer coisa como um giz...

Um giz que rabiscou todos os meus rótulos.

São seus dentes

Para não dizer que as flores me confidenciam o teu cheiro;

E os livros me dizem do teu verbo.

São seus dentes

Para dizer que eu não quero ir embora nunca

Porque há tanto a ser dito,

Mas eu não posso cortar a língua do tempo...

Ah meu bem são só seus dentes!

Para não dizer que eu tenho ciúme das borboletas

E do sorvete...

São seus dentes

Para não dizer da tua voz

Lapidando os meus achados...

São seus dentes

Para que você saiba que o amor é se doar incondicionalmente

As causas e comidas do outro...

E que a dor é apenas um dos vários retornos do ego;

Esqueçamos da dor que ela não dói...

São seus dentes

Para não dizer que eu só tenho um dia da semana

E um dia do ano para provar que duas pessoas podem se fundir

Na linguagem que não fala...

São seus dentes

Para não dizer que é o teu sorriso que enche meu prato.

Que eu amo tanto

Mas ainda são seus dentes

Para não dizer que se você me mordesse

Antes de chorar

Eu certamente sorriria...

E ainda sim depois

Vamos juntos lutar na guerra

Armados até os...

Kamilla Cândido